segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O amor dos homens ( Vinicíus de Moraes )

Na árvore em frente
Eu terei mandado instalar um alto-falante com que os passarinhos
Amplifiquem seus alegres cantos para o teu lânguido despertar.
Acordarás feliz sob o lençol de linho antigo
Com um raio de sol a brincar no talvegue de teus seios
E me darás a boca em flor; minhas mãos amantes
Te buscarão longamente e tu virás de longe, amiga
Do fundo do teu ser de sono e plumas
Para me receber; nossa fruição
Será serena e tarda, repousarei em ti
Como o homem sobre o seu túmulo, pois nada
Haverá fora de nós. Nosso amor será simples e sem tempo.
Depois saudaremos a claridade. Tu dirás
Bom dia ao teto que nos abriga
E ao espelho que recolhe a tua rápida nudez.
Em seguida teremos fome: haverá chá-da-índia
Para matar a nossa sede e mel
Para adoçar o nosso pão. Satisfeitos, ficaremos
Como dois irmãos que se amam além do sangue
E fumaremos juntos o nosso primeiro cigarro matutino.
Só então nos separaremos. Tu me perguntarás
E eu te responderei, a olhar com ternura as minhas pernas
Que o amor pacificou, lembrando-me que elas andaram muitas léguas de mulher
Até te descobrir. Pensarei que tu és a flor extrema
Dessa desesperada minha busca; que em ti
Fez-se a unidade. De repente, ficarei triste
E solitário como um homem, vagamente atento
Aos ruídos longínquos da cidade, enquanto te atarefas absurda
No teu cotidiano, perdida, ah tão perdida
De mim. Sentirei alguma coisa que se fecha no meu peito
Como pesada porta. Terei ciúme
Da luz que te configura e de ti mesma
Que te deixas viver, quando deveras
Seguir comigo como a jovem árvore na corrente de um rio
Em demanda do abismo. Vem-me a angústia
Do limite que nos antagoniza. Vejo a redoma de ar
Que te circunda – o espaço
Que separa os nossos tempos. Tua forma
É outra: bela demais, talvez, para poder
Ser totalmente minha. Tua respiração
Obedece a um ritmo diverso. Tu és mulher.
Tu tens seios, lágrimas e pétalas. À tua volta
O ar se faz aroma. Fora de mim
És pura imagem; em mim
És como um pássaro que eu subjugo, como um pão
Que eu mastigo, como uma secreta fonte entreaberta
Em que bebo, como um resto de nuvem
Sobre que me repouso. Mas nada
Consegue arrancar-te à tua obstinação
Em ser, fora de mim – e eu sofro, amada
De não me seres mais. Mas tudo é nada.
Olho de súbito tua face, onde há gravada
Toda a história da vida, teu corpo
Rompendo em flores, teu ventre
Fértil. Move-te
Uma infinita paciência. Na concha do teu sexo
Estou eu, meus poemas, minhas dores
Minhas ressurreições. Teus seios
São cântaros de leite com que matas
A fome universal. És mulher
Como folha, como flor e como fruto
E eu sou apenas só. Escravizado em ti
Despeço-me de mim, sigo caminhando à tua grande
Pequenina sombra. Vou ver-te tomar banho
Lavar de ti o que restou do nosso amor
Enquanto busco em minha mente algo que te dizer
De estupefaciente. Mas tudo é nada.
São teus gestos que falam, a contração
Dos lábios de maneira a esticar melhor a pele
Para passar o creme, a boca
Levemente entreaberta com que mistificar melhor a eterna imagem
No eterno espelho. E então, desesperado
Parto de ti, sou caçador de tigres em Bengala
Alpinista no Tibet, monje em Cintra, espeleólogo
Na Patagônia. Passo três meses
Numa jangada em pleno oceano para
Provar a origem polinésica dos maias. Alimento-me
De plancto, converso com as gaivotas, deito ao mar poesia engarrafada, acabo
Naufragando nas costas de Antofagasta. Time, Life e Paris-Match
Dedicam-me enormes reportagens. Fazem-me
O "Homem do Ano" e candidato certo ao Prêmio Nobel.
Mas eis comes um pêssego. Teu lábio
Inferior dobra-se sob a polpa, o suco
Escorre pelo teu queixo, cai uma gota no teu seio
E tu te ris. Teu riso
Desagrega os átomos. O espelho pulveriza-se, funde-se o cano de descarga
Quantidades insuspeitadas de estrôncio-90
Acumulam-se nas camadas superiores do banheiro
Só os genes de meus tataranetos poderão dar prova cabal de tua imensa
Radioatividade. Tu te ris, amiga
E me beijas sabendo a pêssego. E eu te amo
De morrer. Interiormente
Procuro afastar meus receios: "Não, ela me ama..."
Digo-me, para me convencer, enquanto sinto
Teus seios despontarem em minhas rnãos
E se crisparem tuas nádegas. Queres ficar grávida
Imediatamente. Há em ti um desejo súbito de alcachofras. Desejarias
Fazer o parto-sem-dor à luz da teoria dos reflexos condicionados
De Pavlov. Depois, sorrindo
Silencias. Odeio o teu silêncio
Que não me pertence, que não é
De ninguém: teu silêncio
Povoado de memórias. Esbofeteio-te
E vou correndo cortar o pulso com gilete-azul; meu sangue
Flui como um pedido de perdão. Abres tua caixa de costura
E coses com linha amarela o meu pulso abandonado, que é para
Combinar bem as cores; em seguida
Fazes-me sugar tua carótida, numa longa, lenta
Transfusão. Eu convalescente
Começas a sair: foste ao cabeleireiro. Perscruto em tua face. Sinto-me
Traído, delinqüescente, em ponto de lágrimas. Mas te aproximas
Só com o casaco do pijama e pousas
Minha mão na tua perna. E então eu canto:
Tu és a mulher amada: destrói-me! Tua beleza
Corrói minha carne como um ácido! Teu signo
É o da destruição! Nada resta
Depois de ti senão ruínas! Tu és o sentimento
De todo o meu inútil, a causa
De minha intolerável permanência! Tu és
Uma contrafação da aurora! Amor, amada
Abençoada sejas: tu e a tua
Impassibilidade. Abençoada sejas
Tu que crias a vertigem na calma, a calma
No seio da paixão. Bendita sejas
Tu que deixas o homem nu diante de si mesmo, que arrasas
Os alicerces do cotidiano. Mágica é tua face
Dentro da grande treva da existência. Sim, mágica
É a face da que não quer senão o abismo
Do ser amado. Exista ela para desmentir
A falsa mulher, a que se veste de inúteis panos
E inúteis danos. Possa ela, cada dia
Renovar o tempo, transformar
Uma hora num minuto. Seja ela
A que nega toda a vaidade, a que constrói
Todo o silêncio. Caminhe ela
Lado a lado do homem em sua antiga, solitária marcha
Para o desconhecido – esse eterno par
Com que começa e finda o mundo – ela que agora
Longe de mim, perto de mim, vivendo
Da constante presença da minha saudade
É mais do que nunca a minha amada: a minha amada e a minha amiga
A que me cobre de óleos santos e é portadora dos meus cantos
A minha amiga nunca superável
A minha inseparável inimiga.




Paris, 07.1957
in Para viver um grande amor (crônicas e poemas)
in Poesia completa e prosa: "A lua de Montevidéu"

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Traduzindo uma mulher

Entenda que essa é a programação feminina padrão, algumas pesquisas mostram que um percentual muito baixo de mulheres tem a capacidade de alterar essa linguagem, tornando-a distinta e relativa.



Mas normalmente funciona assim.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Como escolher sua religião




Não gostou? Vai reclamar com seu Deus!

Ah, a minha deu entre Budista e Ateu, depende do dia.

sábado, 3 de abril de 2010

Songs for someday


Die Fetten Jahre Sind Vorbei (Ger) - Edukators (Pt/Br)

Velho modo de viver

A cada dia que passa
Tudo muda pra valer
Muito ficou para trás
E pouco eu posso fazer

Quando se olha ao redor
É mais fácil perceber
Seus amigos escolheram
O velho modo de viver


Diploma na mão
O emprego da dó
A namorada do ano
É muito melhor

Um carro novo
Dinheiro no banco
As contas pagando
Parece um santo

A mesma rotina
Casa pro trabalho
Dia-a-pós dia
A mesma menina

A foto do dia
Ele na piscina
Um filho vem vindo
É pura alegria

Cidadão padrão
Fora de suspeita
Cheque e cartão
A vida perfeita


Sem ter o controle
A vida se passa
Temos pouca escolha
E nenhuma resposta

Liberdade condicional
Sua vida vai te prender
Antes que compre
O produto possui você


Funcionário do mês
Esposa turbinada
O filho joga bola
A filha ta formada

Troca o carro
Falta uma grana
Seu filho se droga
Esposa reclama

Amante ta caro
Acabou o cigarro
A namorada da filha
Amigo só no trabalho

A viajem do ano
Semana na fazenda
Paris parece longe
Deve imposto de renda

Cidadão padrão
Fora de suspeita
Cheque e cartão
A vida perfeita


E olha o passado
Queria mudar o mundo
Ficou tudo de lado
Morre um sonho por segundo

sexta-feira, 5 de março de 2010

Seminários Vale 2010

Seminário Internacional Museu Vale 2010: DO FUNDO DO ABISMO NASCEM AS MONTANHAS OU COMO SUPERAR UMA CRISE




Programa4ª 3 DE MARÇO

CREDENCIAMENTO a partir das 16h30


ABERTURA das 19h às 21h
“DO ABISMO ÀS MONTANHAS” – Peter Trawny
Lançamento do livro: DO ABISMO ÀS MONTANHAS
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5ª 4 DE MARÇO

MINI-CURSO
Como Superar uma crise?
das 16h às 18h
Palestrantes: Roberto Machado
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MESA 1 das 19h às 22h
Palestrantes: Iole de Freitas e Marcio Doctors
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6ª 5 DE MARÇO


MINI-CURSO
Como Superar uma crise?
das 16h às 18h
Palestrantes: Luiz Alberto Oliveira
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MESA 2 das 19h às 22h
Palestrantes: Moacyr Scliar e Vicente Franz Cecim
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SÁB 6 DE MARÇO

MINI-CURSO
Como Superar uma crise?
das 11h às 13h
Palestrantes: Paulo Venâncio Filho
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MESA 3 das 14h às 17h
Palestrantes: Marcia Sá Cavalcante Schuback e Gary Shapiro
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DOM 7 DE MARÇO

MINI-CURSO
Como Superar uma crise?
das 11h às 13h
Palestrantes: Maria Rita Kehl
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MESA 4 das 14h às 17h
Palestrantes: José Miguel Wisnik e José Celso Martinez Correa
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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Filme do dia: The Holly Mountain


The Holly Mountain, um filme sobre a busca do real poder, com duras criticas a religião, capitalismo, sociedade e guerras. Com técnicas surrealistas, de várias culturas e de forte impacto. De preferência assista chapado.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Filme do dia: Fear and Loathing in Las Vegas


Fear and Loathing in Las Vegas, a busca pelo estilo de vida do sonho americano não poderia ser mais sensatas do que a maneira de Raoul Duke e Dr. Gonzo. Atravessando o deserto em direção a Las Vegas usando todo o tipos de drogas possível. Genial.